Não era mais uma menina com um livro...

...era uma mulher com seu amante.

Clarice Lispector

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

...e isso me basta...

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Eu ouço apenas um rouxinol

Há quem tenha todas as filosofias do mundo
eu ouço apenas um rouxinol na floresta
e isso me basta.
Gosto de ouvi-lo. É tudo.
Bebo o vinho, beijo na língua,
e não sei a casta.

Outros são os enólogos,
os profundíssimos enólogos.
Eu mal distingo o azal do cabernet,
o loureiro do trajadura.
E assim vivo, animal de sons e cheiros,
longínqua e lunática criatura.

Há quem tenha todas as filosofias do mundo.
Eu ouço apenas um rouxinol na floresta
e isso me basta.
Gosto de ouvi-lo. É tudo.
Sou de uma espécie rara: estrela-do-mar
em terra, no fim de tarde tranquilo.
José Carlos de Vasconcelos

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Namorar é querer ir além…

Na leve brisa que passa,
o pensamento voa ao longe.
Junto do amado querer estar,
para um abraço apertado ganhar.

Namorar é estar bem com a vida,
sorrir o sorriso da criança…
Desejar uma presença distante,
e ter do aconchego esperança.

Ter um toque na memória,
e sentir calafrios ao recordar…
De um olhar, um aperto de mão,
e a presença de alguém desejar.

Namorar é querer ir além…
Fantasiar, ter sonhos eróticos.
Sentir a pele tua macia,
no lençol que a noite me acaricia.

Ouvir música ao longe,
eterna e querida melodia…
Fazer amor com as palavras,
de sua singela poesia.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

São Rosas...


Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.

Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.

Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.

Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.

Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.

Rosa Lobato Faria
 
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